INTRODUÇÃO
A heterocromia em cachorro é uma das características mais fascinantes do mundo canino. Esse fenômeno, conhecido popularmente como “olhos de cores diferentes”, desperta curiosidade imediata em qualquer tutor. Quem nunca se encantou ao ver um Husky Siberiano com um olho azul e outro castanho, ou um Pastor Australiano com a mistura intrigante de tonalidades?
Mas a beleza vem acompanhada de dúvidas: será que a heterocromia é apenas uma marca genética inofensiva ou pode indicar um problema de saúde? Essa questão preocupa principalmente os tutores que percebem alterações de cor nos olhos do animal ao longo da vida.
Na maioria dos casos, é apenas resultado da genética e não afeta a visão. Porém, existem situações em que mudanças repentinas na coloração ocular podem ser sinal de doenças graves, como glaucoma, uveíte ou catarata.
Mais do que uma característica estética, é um convite para que o tutor conheça melhor a saúde ocular do seu amigo de quatro patas.

O que é heterocromia em cachorro
A heterocromia em cachorro é uma condição que faz com que o animal apresente olhos de cores diferentes ou até duas tonalidades distintas em um mesmo olho. O termo vem do grego: heteros significa “diferente” e chroma significa “cor”. Ou seja, literalmente, “cores diferentes”.
Ela pode ser:
- Congênita: o cão já nasce com olhos diferentes, geralmente sem prejuízo para a visão ou para a saúde.
- Adquirida: surge ao longo da vida, podendo indicar doenças oculares, traumas ou inflamações. Nesse caso, é indispensável procurar um veterinário.
Tipos de heterocromia em cachorro
- Completa: cada olho tem uma cor diferente, como um olho azul e outro castanho.
- Setorial (ou parcial): apenas uma parte da íris tem cor diferente, criando um efeito de “mancha”.
- Central: a cor varia em torno da pupila, formando um anel de tonalidade distinta.
Singularidade que encanta e intriga
Além do aspecto científico, a heterocromia desperta fascínio estético. Muitos tutores descrevem seus cães como mais expressivos e até “hipnóticos” por causa dos olhos bicolores. Nas redes sociais, esses animais costumam ganhar destaque pela raridade e beleza.
Raças de cachorros com maior incidência
Esta alteração de olhos bicolores pode aparecer em diferentes raças, mas existem algumas em que a condição é mais comum devido a fatores genéticos ligados à pelagem e à pigmentação ocular. Em muitos desses cães, a característica é tão conhecida que se tornou quase uma “marca registrada” da raça.
Husky Siberiano
O Husky é o exemplo clássico quando se fala no assunto. Com porte atlético e olhar penetrante, ele costuma apresentar um olho azul e outro castanho, combinação que chama atenção em qualquer lugar. Entre os Huskies, a heterocromia é tão comum que é considerada parte do padrão estético da raça.
- Curiosidade: em alguns países, acredita-se que os Huskies com olhos diferentes têm maior resistência e coragem, sendo vistos como guardiões.
Pastor Australiano
O Pastor Australiano também tem forte predisposição à heterocromia. Isso acontece principalmente em cães com pelagem merle, já que esse padrão genético afeta a distribuição da melanina tanto no pelo quanto na íris. Não é raro ver um Pastor Australiano com um olho azul cristalino e outro castanho, ou até com manchas de diferentes cores dentro do mesmo olho.
- Curiosidade: apesar do nome, essa raça foi desenvolvida nos Estados Unidos e se tornou famosa pela inteligência e versatilidade no trabalho com rebanhos.
Border Collie
Considerado um dos cães mais inteligentes do mundo, o Border Collie também pode apresentar esta condição. Embora menos comum do que no Husky e no Pastor Australiano, a condição aparece principalmente em animais com pelagem merle. O contraste entre o olhar atento da raça e as cores diferentes dos olhos confere ainda mais intensidade à expressão do Border.
Dálmatas
Os famosos cães de manchas pretas e brancas também podem apresentar heterocromia. No caso dos Dálmatas, os olhos bicolores podem vir acompanhados de uma predisposição genética à surdez, já que os mesmos genes que interferem na coloração ocular estão relacionados ao desenvolvimento do ouvido interno.
- Curiosidade: estima-se que cerca de 30% dos Dálmatas tenham algum grau de surdez, e a presença de olhos diferentes pode ser um dos sinais associados.

Bull Terrier
O Bull Terrier, especialmente nas variedades de pelagem branca, também pode apresentar olhos de cores distintas. Nesse caso, assim como acontece com os Dálmatas, isto pode estar ligado a alterações genéticas que aumentam a probabilidade de surdez congênita.
Outras raças
Além das raças mais conhecidas, também aparece, ainda que de forma mais rara, em:
- Welsh Corgi Cardigan
- Great Dane (Dogue Alemão)
- Chihuahua
- Shetland Sheepdog
Esses casos reforçam que, embora associada a algumas linhagens específicas, a heterocromia pode aparecer em qualquer cão, inclusive sem raça definida.

Causas genéticas da heterocromia em cachorro
Esta condiçãoo está diretamente ligada à forma como a melanina é distribuída nos olhos. A melanina é o pigmento responsável pela cor da pele, dos pelos e da íris. Quando sua presença é desigual entre os olhos ou dentro do mesmo olho, ocorre a variação de tonalidades que chamamos de heterocromia.
Como a melanina define a cor dos olhos
- Alta concentração de melanina → olhos castanhos ou âmbar.
- Concentração média → olhos cor de mel ou esverdeados.
- Baixa concentração → olhos azuis ou acinzentados.
Nos cães com heterocromia, essa distribuição não segue um padrão uniforme. O resultado é um olhar marcante, onde cada olho ou parte dele assume colorações diferentes.
Genes ligados à pelagem e à cor dos olhos
Em algumas raças, os mesmos genes que determinam a cor da pelagem também influenciam a pigmentação da íris. É o caso dos cães com pelagem merle (como o Pastor Australiano e o Border Collie) e dos de pelagem predominantemente branca (como Dálmatas e Bull Terriers).
- Nos cães merle, a diluição irregular da cor dos pelos também afeta a íris, aumentando a chance de apresentar heterocromia.
- Nos cães de pelagem branca, a ausência de pigmentação em certas áreas do corpo pode estar relacionada tanto à cor dos olhos quanto a predisposição para problemas auditivos.
Impacto na visão do cachorro
Uma dúvida comum entre os tutores é se a heterocromia em cachorro afeta a visão. A resposta é não, quando falamos da forma congênita. O cão enxerga normalmente, com a mesma nitidez e percepção que teria se tivesse olhos iguais.
O que pode acontecer, em alguns casos, é uma leve diferença de sensibilidade à luz nos olhos claros, já que a menor quantidade de melanina deixa a íris mais suscetível ao brilho intenso. Isso não representa um problema de saúde, mas pode exigir cuidados extras, como evitar exposição exagerada ao sol.
Quando a heterocromia pode indicar problema de saúde
Embora a maioria dos casos de heterocromia em cachorro seja apenas genética e inofensiva, existem situações em que mudanças na cor dos olhos podem sinalizar doenças sérias. A principal diferença está no histórico: se o cão já nasceu com olhos diferentes, dificilmente há motivo para preocupação; mas se a mudança de cor acontece ao longo da vida, especialmente de forma repentina, é preciso buscar ajuda veterinária imediatamente.
Nessas situações, a alteração pode estar ligada a condições oftalmológicas que afetam não só a estética dos olhos, mas também a visão e o conforto do animal.
Doenças oculares ligadas à heterocromia adquirida
Doença | Principais sinais e impactos |
---|---|
Glaucoma | Aumento da pressão intraocular, dor, olhos mais opacos ou azulados; risco de cegueira se não tratado rapidamente. |
Uveíte | Inflamação interna, alteração de cor na íris (avermelhada ou esverdeada), fotofobia (sensibilidade à luz), lacrimejamento. |
Catarata | Formação de opacidade na lente ocular, olhos esbranquiçados ou azulados; comum em cães idosos. |
Traumas e infecções | Mudanças localizadas na pigmentação ocular, dor, secreção, dificuldade de abrir o olho. |
Alterações súbitas de cor | Podem indicar hemorragias internas, deslocamento da lente ou até tumores oculares. Necessitam de atendimento imediato. |
Exames veterinários recomendados
Quando a diferença de cor nos olhos levanta dúvidas, a avaliação de um médico veterinário oftalmologista é indispensável. Somente o profissional pode determinar se se trata de uma característica genética inofensiva ou de um sinal de problema de saúde.
Os principais exames utilizados são:
1. Avaliação clínica detalhada
O primeiro passo é um exame clínico cuidadoso. O veterinário observa o aspecto externo dos olhos, verifica se há secreções, opacidade, inflamação ou dor durante a manipulação. Essa etapa inicial já fornece pistas importantes sobre o estado ocular.
2. Teste de pressão intraocular (tonometria)
Utilizado para diagnosticar ou descartar glaucoma, a tonometria mede a pressão interna dos olhos. Valores acima do normal indicam risco de danos irreversíveis ao nervo óptico. O exame é rápido, indolor e pode salvar a visão do animal se a doença for detectada precocemente.
3. Exame de fundo de olho
Com o auxílio de equipamentos específicos, o veterinário avalia retina, nervo óptico e vasos sanguíneos. Alterações nesse exame podem indicar uveítes, hemorragias internas ou até tumores oculares.
4. Ultrassonografia ocular
Indicada quando há opacificação do cristalino (como na catarata), a ultrassonografia permite visualizar estruturas internas que não são visíveis a olho nu. Esse exame ajuda a identificar deslocamento de lente, hemorragias ou massas anormais.
5. Exames complementares
Em alguns casos, podem ser solicitados exames de sangue para investigar doenças sistêmicas que afetam os olhos, como infecções ou alterações autoimunes.
- Se a mudança na cor dos olhos foi repentina.
- Quando o animal demonstra dor ocular, esfregando a pata no rosto ou evitando luz.
- Se houver secreções, vermelhidão ou inchaço.
- Em casos de opacidade visível, que deixam o olho esbranquiçado ou azulado.
Nessas situações, o atendimento rápido pode fazer a diferença entre preservar ou perder a visão.
Cuidados práticos do tutor
Mesmo quando a diferença na cor dos olhos é apenas uma característica genética, alguns cuidados simples ajudam a preservar a saúde ocular e garantir o bem-estar do cachorro ao longo da vida.
1. Observação constante – O tutor deve criar o hábito de observar os olhos do animal com regularidade. Mudanças súbitas na cor, secreções, vermelhidão, opacidade ou qualquer sinal de incômodo são motivos para procurar o veterinário.
2. Higiene ocular – A limpeza suave ao redor dos olhos evita o acúmulo de secreções e poeira. Deve-se usar gaze ou algodão úmido com água filtrada ou soro fisiológico, sempre de forma delicada. Jamais utilize produtos caseiros sem orientação profissional.

3. Proteção contra agentes externos– Ambientes com poeira, fumaça ou produtos químicos podem irritar os olhos. Em cães que praticam esportes, como corrida ao ar livre ou agility, óculos de proteção canina podem ser uma boa medida preventiva contra traumas.
4. Alimentação rica em nutrientes – Uma dieta equilibrada fortalece não apenas o corpo, mas também a visão. Alimentos ricos em antioxidantes (como vitamina C, vitamina E e beta-caroteno) ajudam a combater os radicais livres que envelhecem os tecidos oculares. O zinco e o ômega 3 também desempenham papel importante na manutenção da saúde dos olhos. Leia também –Tudo Sobre Alimentação Canina: Do Básico às Melhores Práticas de Nutrição
5. Exames de rotina – Assim como acontece com a vacinação e vermifugação, incluir consultas periódicas com o veterinário é essencial. Mesmo que não haja sinais de problema, os exames preventivos permitem detectar doenças em estágio inicial.
6. Ambiente seguro – Manter o ambiente da casa seguro evita acidentes. Objetos pontiagudos no chão ou plantas com galhos baixos no jardim podem causar arranhões ou traumas oculares. Ajustes simples na rotina e no espaço do pet reduzem riscos desnecessários.
Mitos e crenças culturais
A heterocromia em cachorro sempre chamou a atenção das pessoas, não apenas pela estética, mas também pelo simbolismo que carrega em diferentes culturas. Ao longo da história, olhos de cores distintas foram associados a mistério, espiritualidade e até poderes especiais.
Crenças populares
- Guardiões espirituais: em algumas tradições do norte da Europa, acreditava-se que cães com olhos diferentes eram protetores contra espíritos malignos. Eles eram vistos como guardiões das casas e dos rebanhos.
- Boa sorte e prosperidade: povos antigos associavam a heterocromia a sinais de sorte. Tutores de cães com olhos bicolores acreditavam que o animal atraía abundância e proteção para a família.
- Olhos da verdade: em certas lendas, um olho representaria o mundo físico e o outro o espiritual, conferindo ao animal uma “visão além do comum”.
Na cultura moderna
Na era das redes sociais, a heterocromia em cachorro também ganhou destaque como símbolo de beleza rara. Fotos e vídeos de cães com olhos diferentes se espalham rapidamente, atraindo curtidas e compartilhamentos. Muitas vezes, esses animais acabam se tornando verdadeiras celebridades digitais.
mito e ciência
Embora seja fascinante conhecer os mitos que envolvem os olhos bicolores, é importante deixar claro: a heterocromia tem explicação genética, não espiritual. Ainda assim, esse olhar diferenciado continua despertando no ser humano a sensação de que existe algo de mágico em cães que parecem enxergar o mundo de duas formas diferentes.
Estudos científicos e visão de especialistas
Embora muitos tutores vejam a heterocromia apenas como uma característica estética, a ciência veterinária já investigou suas origens e possíveis implicações na saúde.
O que revelam os estudos genéticos
Pesquisas indicam que a heterocromia está ligada a mutações nos genes que controlam a produção e distribuição da melanina.
- Em raças merle (como Pastor Australiano e Border Collie), essas mutações alteram tanto a cor da pelagem quanto dos olhos — e, em alguns casos, também afetam a audição.
- Em raças brancas (como Dálmatas e Bull Terriers), estudos apontam que a presença de olhos bicolores pode estar associada a maior risco de surdez congênita. Isso não significa que todo cão com heterocromia seja surdo, mas há predisposição genética.
Pesquisas mais recentes em genética canina sugerem ainda que fatores ambientais podem interagir com essa predisposição, fazendo com que alguns cães expressem a condição de forma mais intensa. Esse cruzamento entre genética e ambiente ainda está sendo estudado, mas reforça que a heterocromia é um fenômeno mais complexo do que parece à primeira vista.
O que dizem os especialistas
Oftalmologistas veterinários reforçam:
- Quando congênita, a heterocromia não afeta a visão do cão.
- Alterações de cor adquiridas na fase adulta exigem investigação, pois podem indicar doenças sérias como glaucoma, uveíte ou catarata.
Segundo a Associação Americana de Veterinários Oftalmologistas (ACVO), cães predispostos a alterações oculares devem passar por exames anuais. Esse cuidado ajuda a prevenir complicações graves e até perda da visão, além de permitir o acompanhamento de características genéticas que podem estar associadas a outros sistemas do corpo.
CONCLUSÃO
A heterocromia em cachorro é um traço que encanta e intriga ao mesmo tempo. Para alguns tutores, ela representa apenas uma beleza rara, para outros, uma fonte de preocupação. O importante é entender que, na maioria dos casos, trata-se de uma característica genética inofensiva, que não afeta a visão nem o bem-estar do animal.
Por outro lado, quando a mudança de cor surge de forma repentina ou vem acompanhada de sinais como dor, secreções ou opacidade, pode indicar problemas sérios de saúde ocular. Nesses casos, a atenção rápida e a consulta com um veterinário oftalmologista são fundamentais para preservar a visão e a qualidade de vida do pet.
Mais do que uma curiosidade estética, a heterocromia reforça o quanto cada cachorro é único. O olhar especial de um cão com olhos diferentes pode emocionar, mas também deve servir de lembrete ao tutor sobre a importância do cuidado preventivo, da observação diária e do acompanhamento veterinário.
Gostou do conteúdo? Continue acompanhando o blog Patinhas & Cuidados e descubra outros artigos sobre saúde, bem-estar e comportamento canino para cuidar ainda melhor do seu melhor amigo.

“Ricardo Gontijo é jornalista e escritor apaixonado por cães desde a infância, quando convivia com seu vira-lata caramelo Tobias. Hoje, transforma essa vivência em conteúdos claros e acessíveis sobre comportamento e curiosidades caninas, ajudando tutores a entenderem melhor seus pets e fortalecerem o vínculo com eles por meio de artigos que unem experiência pessoal, pesquisa e amor pelos animais.”